Tahereh
Mafi acaba de soltar mais um trechinho de Defy Me no instagram com um aviso de
que, se você não leu Restaura Me não deve ler essas páginas. Eu ainda não li (e
pelo andar da carruagem não vou ler tão cedo. Já viram o preço do livro?), mas
já dei uma olhada no trecho que ela liberou de Shadow Me (e recebi um resumo de
Restaura Me feito pelo Kenji)... Então já não importa.
WARNER
—
Maldição.
Eu
ouço a raiva contida na voz do meu pai
antes de alguma coisa bater, com força, em outra coisa. Ele pragueja novamente.
Eu
hesito do lado de fora da porta.
E
então, impacientemente —
—
O que você quer?
Sua
voz é praticamente um rosnado. Eu luto contra o impulso de ser intimidado. Eu
transformo meu rosto em uma máscara. Neutralizo minhas emoções. E então,
cuidadosamente, eu entro no escritório.
Meu
pai está sentado em sua mesa, mas eu vejo apenas a parte de trás de sua cadeira
e um copo inacabado de uísque em sua mão esquerda. Seus papeis estão
bagunçados. Eu noto o peso de papel no chão, o dano na parede.
Alguma
coisa deu errado.
—
Você queria me ver. — Eu digo.
—
O que? — Meu pai vira sua cadeira para me encarar. — Te ver pra que?
Eu
não digo nada. Eu aprendi a nunca lembra-lo quando ele esquece alguma coisa
Finalmente,
ele suspira:
—
Certo. Sim. — E então: — Nós vamos ter que discutir isso depois.
—
Depois? — Dessa vez eu luto para esconder meus sentimentos. — Você disse que me
daria uma resposta hoje...
—
Surgiu uma coisa.
Poços
de raiva no meu peito. Eu esqueço de mim mesmo.
—
Algo mais importante do que a sua esposa moribunda?
Meu
pai não cai nessa. Ao invés disso ele pega uma pilha de papeis em sua mesa e
diz:
—
Vá embora.
Eu
não me movo.
—
Eu preciso saber o que vai acontecer. — Digo. — Eu não quero ir para a capital
com você... Eu quero ficar aqui, com a mamãe...
—
Jesus. — Ele diz batendo seu copo na mesa. — Você consegue se ouvir? — Ele olha
para mim, com nojo. — Esse comportamento não é saudável. É perturbador. Eu
nunca conheci um garoto de dezesseis anos de idade tão obcecado com sua mãe.
Ele
segura meu pescoço e eu me odeio por isso. O odeio por me fazer me odiar quando
digo, baixinho:
—
Eu não sou obcecado nela.
Anderson
balança sua cabeça.
—
Você é patético.
Eu
recebo o golpe emocional e o enterro. Com algum esforço eu consigo soar
indiferente quando digo:
—
Eu só quero saber o que vai acontecer.
Anderson
se levanta, enfia suas mãos nos bolsos. Ele olha para a grande janela em seu
escritório, para a cidade além.
A
vista é sombria.
Autoestradas
se transformaram em museus à céu aberto para os esqueletos de veículos
esquecidos. Montanhas de lixo formam (ranges?) ao longo do terreno. Pássaros mortos
sujam as ruas, carcaças continuam a cair do céu ocasionalmente. Fogos
indomáveis queimam à distância, ventos fortes alimentando suas chamas. Uma
grossa camada de fumaça assentou permanentemente sobre a cidade e as nuvens restantes
são cinza, pesadas com chuva. Nós já começamos o processo de regular o que
passa por habitável e inabitável, e seções inteiras da cidade foram
desativadas. Maior parte das áreas do litoral, por exemplo, foram evacuadas. As
ruas e as casas ficaram inundadas, os tetos colapsaram devagar.
Em
comparação, o escritório do meu pai é m verdadeiro paraíso. Tudo continua novo
aqui. A madeira ainda tem cheiro de madeira, todas as superfícies brilham. O
Reestabelecimento foi eleito fazia apenas quatro meses, e meu pai é atualmente
o comandante e regente de um dos novos setores.
Número
45.
Uma
rajada repentina de vendo bate na janela e eu o sinto reverberar pela sala. As
luzes cintilam. Ele não recua. O mundo pode estar desmoronando, mas O Reestabelecimento
tem feito melhor do que nunca. Seus planos se encaixaram mais rapidamente do
que eles esperavam. E meu pai já está sendo considerado para uma grande
promoção — para supremo comandante da América do Norte — nenhuma quantidade de
sucesso parece acalmá-lo. Ele tem estado mais volátil do que o normal.
Finalmente
ele diz:
—
Eu não tenho ideia do que vai acontecer. Eu nem sei se eles ainda estão me
considerando para a promoção.
Eu
sou incapaz de mascarar minha surpresa.
—
Porque não?
Anderson
sorri, infeliz, para a janela.
—
Um serviço de babá deu errado.
—
Eu não entendo.
—
Eu não espero que entenda.
—
Então... Nós não vamos nos mudar mais? Nós não iremos mais para a capital?
Anderson
se vira.
—
Não fique tão animado. Eu disse que eu ainda não sei. Primeiro, eu tenho que
descobrir como lidar com o problema.
Silenciosamente
eu digo:
—
Qual é o problema?
Anderson
ri. Seus olhos enrugam e, por um momento, ele se parece humano.
—
Basta dizer que a sua namorada está arruinando a droga do meu dia. Como sempre.
—
Minha o que? — Eu franzo a testa. — Pai, Lena não é minha namorada. Eu não me
importo com o que ela está dizendo...
—
Namorada diferente. — Anderson diz, e suspira. Ele não me olha nos olhos agora.
Ele pega uma pasta de arquivo de sua mesa, abre, e examina os conteúdos.
Eu
não tenho a chance de fazer outra pergunta.
Há
uma repentina, afiada, batida na porta. Ao sinal do meu pai, Delalieu entra.
Ele parece mais do que um pouco surpreso por me ver e, por um momento, não diz
nada.
—
Então? — Meu pai parece impaciente. — Ela está aqui?
—
S-sim, senhor. — Delalieu raspa a garganta. Seus olhos voam para mim novamente.
— Eu devo trazê-la aqui ou você prefere encontrá-la em outro lugar.
—
Traga-a.
Delalieu
hesita.
—
Você tem certeza, senhor?
Eu
olho de meu pai para Delalieu. Alguma coisa está errada.
Os
olhos do meu pai se encontam com os dele e ele diz:
—
Eu disse para trazê-la.
Delalieu
acena com a cabeça e desaparece.
Minha
cabeça é uma pedra, pesada e inútil. Meus olhos cimentados no meu crânio. Eu
mantenho a consciência apenas por alguns segundos de cada vez. Sinto cheiro de
metal, gosto de metal. Um acidente, barulho estrondoso crescente e alto, então
suave, e então alto novamente.
Botas,
pesadas perto da minha cabeça.
Vozes,
mas os sons estão abafados, anos luz de distância. Eu não consigo me mover. Eu
sinto como se tivesse sido enterrado, deixado para apodrecer. Uma luz laranja
fraca cintila atrás dos meus olhos por apenas um segundo... só um segundo...
Não.
Nada.
Dias
parecem ter se passado. Séculos. Só estou ciente o suficiente para perceber que
tenho sido brutalmente sedado. Constantemente sedado. Estou ressecado, desidratado
ao ponto de sentir dor. Eu mataria por água. Mataria por água.
Quando
eles me movem eu me sinto pesado, estranho para mim mesmo. Eu caio com força no
chão gelado, a dor ricocheteando no meu corpo como se fosse à distância. Eu sei
que, cedo demais, a dor vai me alcançar. Cedo demais os sedativos irão parar de
funcionar e eu vou ficar sozinho com meus ossos e essa poeira na minha boca.
Um
chute rápido e com força no intestino e meus olhos se abrem, escuridão
devorando minha boca aberta ofegante infiltrando-se nas órbitas dos meus olhos.
Eu me sinto cego e sufocado de uma vez só, e então quando o choque finalmente
desaparece, meus membros desistem.
A
faísca morre.
.......................
As páginas que ela colocou no instagram.