Mais um livro da Tahereh Mafi. A capa foi revelada hoje pela EW e com ela o primeiro capítulo que tem lançamento previsto para o final do ano nos Estados Unidos. O primeiro capítulo pode ser lido aqui em inglês. Caso não entendam bem o inglês podem dar uma olhadinha na minha tentativa de traduzir o primeiro capítulo bem aqui.
A Very Large Expanse os Sea - Tahereh Mafi
Um
Nós sempre parecemos estar nos movendo, sempre para o
melhor, sempre para fazer nossas vidas melhores. Eu não conseguia acompanhar o
impacto emocional. Eu frequentei tantas escolas primárias e ensinos fundamentais
que eu nem conseguia mais manter seus nomes, essa mudança de escolas o tempo
todo estava realmente começando a me fazer querer morrer. Aquela era a minha
terceira escola em menos de dois anos e minha vida parecia, de repente,
compreender uma grande quantidade de confusão e besteira todo dia que as vezes eu
mal podia mover meus lábios. Eu estava preocupada de que se eu falasse ou
gritasse minha raiva poderia manter os dois lados da minha boca abertos e me
partir em duas.
Então eu não falei nada.
Era o final de Agosto, todo o calor volátil e a brisa
ocasional. Eu estava cercada por mochilas engomadas e jeans duros e crianças que cheiravam à
plástico novo. Elas pareciam felizes.
Suspirei e fechei meu armário.
Para mim, hoje era apenas mais um primeiro dia de escola em outra
nova cidade, então eu fiz o que eu sempre fazia quando aparecia em uma nova escola:
Eu não olhei para as pessoas. Pessoas sempre estavam olhando para mim, e quando
eu olhava de volta eles frequentemente pegavam aquilo como um convite para
falarem comigo, e quando eles falavam comigo eles quase sempre diziam alguma
coisa ofensiva ou estúpida ou as duas coisas e eu decidi há muito tempo que era
mais fácil fingir que eles simplesmente não existiam.
Eu consegui sobreviver as primeiras aulas do dia sem nenhum incidente
maior, mas eu ainda estava lutando para navegar pela escola. Minha próxima aula
parecia ser no outro lado do campus, e eu estava tentando descobrir onde eu estava
— marcando com um x as salas com o meu novo horário — quando o sinal tocou. No tempo
que levou para que eu, aturdida, olhasse para o relógio as massas de alunos ao
meu redor desapareceram. EU estava, de repente, sozinha em um longo, vazio
corredor. Meu horário amassado em um pulso. Eu apertei meus olhos e xinguei sob
minha respiração.
Quando eu finalmente encontrei minha próxima aula eu estava
sete minutos atrasada. Eu empurrei a porta, as dobradiças chiando levemente, e
os estudantes viraram suas cadeiras. O professor parou de falar, sua boca ainda
presa em um som, sua face com a expressão congelada.
Ele piscou para mim.
Eu desviei meus olhos, mesmo quando eu senti que a sala se
contraia ao meu redor. Eu deslizei no
banco vazio mais próximo e não falei nada. Eu peguei o caderno na minha
mochila. Peguei uma caneta. Eu estava respirando com dificuldade, esperando o
momento passar, esperando para que as pessoas olhassem para outro lado,
esperando meu professor começar a falar novamente quando ele, de repente, limpou
sua garganta e disse...
— De qualquer forma, como eu estava dizendo: nosso programa
de estudos inclui um pouco de leitura obrigatória, e aqueles de vocês que estão
aqui agora — ele hesitou, olhou para a lista que estava em suas mãos — devem
estar desacostumados com o nosso intenso e, ah, altamente exigente currículo. —
Ele parou. Hesitou novamente. Apertou o papel em suas mãos.
E então, do nada, ele disse?
— Agora... Me desculpe se eu estou falando isso incorretamente,
mas... É Sharon? — Ele olhou para cima,
olhou diretamente nos meus olhos.
— É Shirin. — Falei.
Os estudantes se viraram para me olhar novamente.
— Ah... — Meu professor, Sr. Webber, não tentou pronunciar
meu nome novamente. — Bem Vinda!
Eu não respondi.
— Então. — Ele sorriu. — Você entende que é uma aula de
inglês.
Eu hesitei. Eu não estava certa do que ele esperava que eu
dissesse para uma declaração tão óbvia.
— Sim. — Eu disse, finalmente.
Ele assentiu, então riu e disse:
— Querida, eu acho que você deve estar na aula errada.
Eu queria dizer para ele não me chamar de querida. Eu queria
dizer para ele não falar comigo nunca mais, como uma regra geral. Ao invés eu
disse:
— Estou na aula certa. — E segurei meu horário amassado.
O senhor Webber balançou sua cabeça mesmo quando continuou
sorrindo.
— Não se preocupe... Isso não é culpa sua. Acontece as vezes
com estudantes novos. Mas o escritório ESL é na...
— Eu estou na aula certa, tudo bem? — Falei as palavras com
mais força do que eu pretendia. — Eu estou na aula certa.
Aquela merda estava acontecendo comigo.
Não importava o quanto sem sotaque fosse o meu inglês. Não
importava que eu falasse para as pessoas de novo e de novo que eu tinha nascido
lá, nos Estados unidos. Que inglês era a minha primeira língua, que meus primos
no Iran debochavam de mim por falar Farsi (língua Persa) com um sotaque
americano... Não importava. Todos assumiam que eu tinha acabado de sair de um
bote vindo de uma terra estrangeira.
O sorriso do Sr. Webber vacilou.
— Oh. — Ele disse. — Tudo bem.
As crianças ao meu redor começaram a rir e eu senti meu
rosto ficando quente. Eu olhe para baixo e abri meu caderno em branco em uma
página qualquer, esperando que a ação poderia colocar um fim na conversa.
Ao invés, o senhor Webber levantou suas mãos e disse:
— Escutem... Eu, pessoalmente? Eu quero que você fique, tudo
bem? Mas essa é uma classe muito avançada, e mesmo que eu tenha certeza de que
seu inglês é muito bom, ainda é...
— Meu inglês... — Falei. — Não é muito bom. A porra do meu
inglês é perfeito.
Eu passei o resto da hora na sala do diretor.
Ele me deu um sermão bem severo sobre o tipo de comportamento
esperado dos estudantes naquela escola e me alertou de que se eu iria ser
deliberadamente hostil e não cooperativa, talvez, aquela não era a escola para
mim. E então eu recebi detenção por usar linguagem vulgar dentro da sala. O
sinal para o almoço tocou enquanto o diretor gritava comigo, então quando finalmente
ele me deixou ir eu peguei minhas coisas e saí.
Eu não estava com pressa para ir pra lugar nenhum. Eu apenas
esperava ficar longe das pessoas. Eu tive mais duas aulas depois do almoço mas
não tinha certeza de que minha cabeça aguentaria. Eu já tinha superado meu
limite para estupidez aquele dia.
Eu estava equilibrando minha bandeja no meu colo em um box
do banheiro, minha cabeça entre minhas mãos, quando meu telefone tocou. Era o
meu irmão.
O que está fazendo?
Almoçando.
Mentira. Onde você está se escondendo?
No banheiro.
O que? Por que?
O que mais eu devo fazer por 37 minutos? Encarar as pessoas?
E então ele me disse para sair do banheiro e ir almoçar com
ele. Aparentemente a escola já tinha mandado o vagão de boas vindas cheio de
novos amigos em comemoração a sua cara bonita. E eu devia me juntar ao invés de
ficar me escondendo.
Não, obrigado. Eu escrevi.
E então eu joguei meu almoço no lixo me escondi na biblioteca até o sinal tocar.
Meu irmão é dois anos mais velho do que eu. Nós quase sempre
estivemos na mesma escola no mesmo tempo. Mas ele não odiava se mudar como eu
odiava. Ele nem sempre sofria quando tínhamos que ir para uma nova cidade.
Existiam duas grandes diferenças entre mim e meu irmão. Primeira: ele era
extremamente bonito, e segunda: ele não andava por aí vestindo um sinal
metafórico de neon em sua testa piscando: CUIDADO, TERRORISTA SE APROXIMANDO.
Sendo sincera, garotas se alinhando para mostrar a escola
para o meu irmão. Ele era o novo carinha bonito. O garoto interessante com um
passado interessante e um nome interessante. O cara bonito e exótico que todas
aquelas garotas bonitas iriam, inevitavelmente, usar para satisfazer suas
necessidades de experimentar e um dia se rebelar contra seus pais. Eu aprendi
do jeito difícil que eu não podia almoçar com ele e seus amigos. Toda vez que
eu aparecia, rabo entre as pernas e meu orgulho no lixo, levava cinco segundos
para perceber que a única razão pela qual suas novas amigas estavam sendo
legais comigo era porque elas queriam me usar para chegarem até ele.
Eu prefiro comer no banheiro.
Eu disse para mim mesma que eu não me importava, mas
obviamente eu me importava. O ciclo de
notícias não me deixava mais respirar. O onze de setembro aconteceu nesse
outono, duas semanas antes do meu primeira ano, e algumas semanas depois dois
caras me atacaram enquanto eu estava caminhando de casa para a escola e a pior
parte — A pior parte — foi que eu levei dias para espantar a negação. Levou
dias para que eu entendesse o porquê.
Eu continuei esperando a explicação que poderia acabar sendo mais complexa, que
acabaria sendo a mais pura, com ódio cego para motivar suas ações. Eu queria
que houvesse uma outra razão para dois estranhos me seguirem até em casa, alguma
outra razão pela qual eles arrancariam meu cachecol da minha cabeça e tentariam
me enforcar com ele. Eu não entendia como alguém podia ser tão violentamente
nervoso comigo por alguma coisa que eu não tinha feito. Tanto que eles se
sentiam justificados para me atacar em plena luz do dia enquanto eu andava pela
rua.
Eu não queria entender.
Mas lá estava.
Eu não esperava muita coisa quando nos mudamos para cá, mas
eu ainda me senti mal ao descobrir que essa escola não era melhor do que a
minha última. Eu estava presa em outra cidade pequena, presa em outro universo
povoado pelo tipo de pessoa que só tinham visto rostos como o meu nos seus
telejornais da tarde, e eu odiei. Eu odiei os exaustivos, meses solitários que
levou para me acostumar em uma nova escola. Eu odiei quanto tempo demorou para
as crianças ao meu redor perceberem que eu não era nem aterrorizante e nem
perigosa. Eu odiei o patético, sugador de alma esforço que levou para que eu
finalmente fazer um único amigo corajoso o bastante para se sentar perto de mim
em público. Eu tive que reviver esse horrível ciclo tantas vezes, em tantas
escolas diferentes, que as vezes eu realmente queria colocar minha cabeça através
de uma parede. Tudo que eu queria do mundo era ser perfeitamente não notável.
Eu queria saber como era caminhar por um cômodo sem ser encarada por ninguém.
Mas uma única olhada pelo campus esvaziou todas as esperanças que eu tinha de
me misturar.
O corpo de estudantes era, na maior parte, uma massa
homogênea de duzentas pessoas que aparentemente apaixonadas por basquete. Eu já
tinha passado por dúzias de pôsteres — e um banner enorme pendurado sobre as
portas da frente — celebrando um time que nem estava na temporada ainda. Havia
números grandes demais, em preto em branco, estampados nas paredes dos
corredores. Sinais gritando para os transeuntes para contar os dias até o
primeiro jogo da temporada.
Eu não tinha interesse em basquete.
Em vez disso, eu
estava contando o número de porcarias que as pessoas tinham falado para mim
naquele dia. Eu estava segurando com força ao catorze até caminhar para a minha
próxima aula quando uma criança, passando por mim no corredor, perguntou se eu
usava aquela coisa na minha cabeça para esconder bombas e eu o ignorei. E então
seu amigo disse que talvez eu era secretamente careca e eu o ignorei. E então
um terceiro disse que eu era provavelmente, na verdade, um homem, e estava
tentando esconder isso. E eu finalmente disse para todos eles se foderem, mesmo
quando estavam se parabenizando por terem vindo com aquelas hipóteses
excelentes. Eu não tenho ideia de como aqueles cuzões se pareiam porque eu
nunca olhei na direção deles, mas eu estava pensando dezessete, dezessete, quando cheguei a minha
próxima aula cedo demais e esperei, no escuro, para alguém aparecer.
Estas, a regular injeção de veneno que que era presenteada
por estranhos, era definitivamente a pior coisa sobre usar um lenço na cabeça.
Mas a melhor coisa sobre isso era que os professores não conseguiam me ver ouvindo
música.
Era o perfeito disfarce para os meus fones.
Música fazia meu dia tão mais fácil. Caminhar pelos
corredores da escola era, de algum jeito, mais fácil. Sentar sozinha o tempo
todo era mais fácil. Eu amava que ninguém conseguia dizer que eu estava ouvindo
música e isso, porque ninguém sabia, nunca me pediram para desliga-la. Eu tive
várias conversas com professores que não tinham ideia de que eu estava ouvindo
apenas metade do que eles diziam não importando o que estavam dizendo para mim.
E por alguma razão isso me fez feliz. Música parecia me firmar como um segundo
esqueleto. Eu me apoiava nela quando meus próprios ossos estavam muito abalados
para ficarem de pé. Eu sempre ouvia as músicas no iPod que eu tinha roubado do
meu irmão e, aqui — como eu fiz ano passado, quando ele comprou a coisa — eu
caminhei para a sala como se eu estivesse ouvindo a trilha sonora do meu
próprio filme de merda. Isso me deu um tipo inexplicável de esperança.
Quando a minha última aula do dia tinha finalmente chegado
eu já estava assistindo meu professor no mudo. Minha mente vagava, eu
continuava checando o relógio, desesperada para escapar. Hoje, os Fugees estavam preenchendo os buracos na
minha cabeça, e eu encarei meu estojo, virando-o nas minhas mãos. Eu realmente
gostava de lapiseiras. Tipo, as boas. Eu tinha uma pequena coleção. Na verdade,
eu tinha ganhado de uma velha amiga de quatro anos atrás. Ela as trouxe do
Japão e eu estava levemente obcecada. Aqueles lápis eram delicados e coloridos
e cheios de glitter e eles tinham
vindo com um conjunto de borrachas adoráveis e esse estojo fofo com o desenho
de uma ovelha. E a ovelha
dizia Do not make light of me just
because I am sheep. E eu sempre achei que aquilo era tão engraçado e
estranho e estava me lembrando daquilo agora, sorrindo um pouco, quando alguém
me tocou no ombro, com força.
— O que? — Eu me virei enquanto dizia, falando alto demais sem
querer.
Um cara. Ele pareceu assustado.
— O que? — Eu falei baixinho, agora irritada.
Ele disse alguma coisa mas eu não consegui ouvi-lo. Eu puxei
o iPod do meu bolso e apertei pause.
— Uh. — Ele piscou para mim. Sorriu, mas pareceu confuso a
respeito daquilo. — Você está ouvindo música aí debaixo?
— Posso te ajudar?
— Oh. Não. Não. Eu só bati no seu ombro com o meu livro. Por
acidente. Eu estava tentando dizer desculpa.
— Tudo bem. — Eu me virei. Liguei minha música novamente.
O dia passou.
As pessoas massacraram meu nome, professores não sabiam o
que diabos fazer comigo. Meu professor de matemática olhou para o meu rosto e
deu um discurso de cinco minutos para a minha classe sobre como as pessoas que
não amam este país deviam simplesmente irem embora para onde eles tinham vindo
e eu encarei meu caderno com tanta intensidade
que demorou dias para que eu pudesse tirar a equação quadrática da minha
cabeça.
Nenhum dos meus colegas de classe falou comigo, ninguém além
do cara que, acidentalmente, acertou meu ombro com seu livro de biologia.
Eu queria não me importar.
***
Eu fui pra casa me sentindo aliviada e desanimada. Levou
muito de mim para colocar as paredes que me mantiveram segura do desgosto, e no
final de todos os dias eu me senti definhada pelo esforço emocional que as
vezes meu corpo todo ficava instável. Eu estava tentando me manter firme enquanto
eu fazia meu caminho pelo trecho tranquilo da calçada que me levaria para casa
— tentando balançar essa pesada e triste névoa da minha cabeça — quando um
carro desacelerou o bastante para que uma senhora gritasse que eu estava na América
agora, então eu devia me vestir de acordo. E isso foi apenas, eu não sei. Eu estava
tão desgraçadamente exausta que eu nem consegui encontrar entusiasmo para ficar
brava. Nem mesmo enquanto eu ofereci uma vista completa do meu dedo do meio
enquanto ela dirigia para longe.
Mais dois anos e meio.
Era tudo que eu conseguia pensar.
Mais dois anos e meio até eu poder ficar livre daquela penitenciária
perfeita que eles chamavam de Ensino Médio, daqueles monstros que eles chamavam
de pessoas. Eu estava desesperada para escapar daquela instituição de idiotas.
Eu queria ir para a faculdade, fazer minha própria vida. Eu só queria
sobreviver até lá.